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Desmistificando os Remédios para Obesidade
MITOS e VERDADES sobre Remédios para Emagrecer

“A
obesidade é apenas um fator de risco para outras doenças como pressão alta e diabetes e o tratamento envolve apenas
mudança de hábitos e a escolha individual de hábitos saudáveis corrige o problema” é um MITO. Na VERDADE, a
obesidade é considerada pelas sociedades médicas da especialidade uma doença, que tem complicações que vão desde
pressão alta e diabetes até mesmo vários tipos de câncer, apneia do sono, depressão e doenças articulares. OUTRA
VERDADE é que o ambiente moderno oferece alimentos hipercalóricos e a atividade física no cotidiano é reduzida.
Atualmente sabe-se que, expostas a esse ambiente, algumas pessoas têm predisposição a ganhar peso pela genética
individual e outras são resistentes ao aumento de peso.
O
tratamento da obesidade envolve vários profissionais, como o médico especialista, geralmente endocrinologista, o
nutricionista e o educador físico, entre outros. A orientação das mudanças de hábito de vida deve ser
individualizada de acordo com a história do paciente.
“Emagrecer
de forma saudável significa emagrecer sem usar remédios” é uma frase comum, usada até mesmo por
celebridades em propaganda de shakese de fitoterápicos, mas é um grande MITO. O conhecimento adquirido sobre
a regulação do apetite nas últimas décadas permitiu o desenvolvimento de medicamentos modernos e seguros, tratando a
obesidade como uma doença crônica, da mesma forma que se trata de pressão alta, colesterol alto ou diabetes. Os
remédios devem ser sempre utilizados junto com a orientação das mudanças de hábito de vida.
“Remédio
para emagrecer não presta, porque quando a pessoa para de tomar ela engorda de novo” é uma frase comum, mas
um grandíssimo MITO! A VERDADE é que não existe nenhum remédio para doenças crônicas que é usado por algumas semanas
ou meses e que “cura” a doença. Se a predisposição a aumentar de peso foi controlada e revertida com o tratamento,
uma vez interrompido, é natural que o peso volte a aumentar. Você alguma vez ouviu alguém dizer que “remédio para
pressão alta não presta, porque se a pessoa para de tomar a pressão sobe de novo”?
A afirmação
de que 90% das pessoas que perdem peso voltam a engordar novamente” é verdadeira, mas o que
acontece é o abandono de tratamento. Quem abandona o tratamento da hipertensão verá os níveis de pressão arterial se
elevarem; os que abandonam o tratamento do colesterol alto, terão aumento dos valores de colesterol no próximo
exame; o mesmo acontece com a glicose no sangue das pessoas com diabetes que deixam de se tratar: pois com o
sobrepeso e a obesidade ocorre o mesmo: o efeito sanfona reflete o abandono do tratamento (ou seja, obesidade é uma
doença crônica que precisa ser tratada e monitorada por toda a vida).
A
pessoas com peso excessivo devem ter o seu diagnóstico estabelecido e devem ser encaminhadas o mais cedo
possível para impedir a progressão e o agravamento da doença. Isso significa que o pediatra, o clínico
geral, o cardiologista, o ginecologista (e outros médicos) devem pesar, medir a altura dos pacientes e verificar se
o peso está adequado ou não. Os pacientes com excesso de peso devem ser reconhecidos e encaminhados sem atraso para
tratamento. É um MITO, por exemplo, achar que uma criança que está acima do peso “vai resolver isso quando entrar na
puberdade e não tem problemas de saúde”. A VERDADE é que a maioria delas estará com mais peso ainda na puberdade e
acaba entrando na idade adulta com obesidade. As mesmas doenças o risco de doenças que o adulto que sofre de
obesidade tem são compartilhadas pelas crianças com excesso de peso.
“Somente
pessoas com obesidade grave merecem fazer um tratamento que utiliza remédios” é um MITO. A VERDADE é que o
tratamento com remédios já está indicado em pessoas com excesso de peso (ou “sobrepeso”) quando existir algum
problema de saúde relacionado (como por exemplo, gordura no fígado, dor nos joelhos ou glicose alterada). Já
apresentam sobrepeso pessoas com altura de 170 cm e 75 kg ou com 160 cm e 65 kg, para dar dois exemplos práticos. Se
o quadro for mais grave e o indivíduo tiver obesidade (para as mesmas estaturas seria um peso de 87 kg e de 77 kg,
por exemplo), não há necessidade de doença associada.
“O
tratamento da obesidade é um tratamento estético” é MITO. A VERDADE é que o objetivo do tratamento é a
perda de mais ou menos 10% do peso (às vezes bem mais que isso) e manter essa perda a longo prazo, que é um valor
mínimo que promove melhora na saúde. Se houver uma satisfação com a estética, é um benefício adicional, mas os alvos
do tratamento não são baseados nisso.
“Tratando
da obesidade, posso reduzir remédios para outras doenças” é uma VERDADE que incentiva o tratamento do peso
excessivo. Entre os hipertensos, 80% apresentam excesso de peso e entre os diabéticos, 90%! A perda e manutenção do
peso perdido pode fazer com que vários remédios para outras doenças possam ter a dosagem reduzida ou possam até
mesmo ser suspensos. Tratar a obesidade é custo-efetivo do ponto de vista da saúde pública.
“Sibutramina
pode causar dependência” é um MITO! Sibutramina foi lançada no Brasil há quase 20 anos e sempre foi vendida
com receita em duas vias (Receituário “C”, o mesmo que se utiliza atualmente para prescrição de antibióticos e
também de antidepressivos), até 2010, quando a ANVISA “para melhorar o controle de venda” da sibutramina, mudou as
regras, passando-a para prescrição em Notificação de Receita B2. A partir de então, a sibutramina recebeu
gratuitamente A na caixa os dizeres: "O Abuso deste Medicamento pode causar Dependência", o que não corresponde à
VERDADE e nunca foi demonstrado. A VERDADE é que isso colabora para a estigmatização do tratamento da obesidade.
“A sibutramina é contraindicada em pacientes com diabetes e em hipertensos” é um MITO. Nenhum
estudo demonstrou uma contraindicação absoluta de uso nesses pacientes. Vários estudos foram realizados em
normotensos, em hipertensos e em diabéticos, demonstrando segurança de uso. Nesses estudos, os pacientes tiveram, em
média, uma elevação mínima da pressão arterial e uma redução discreta da glicose no sangue, mas bons respondedores à
medicação tiveram até mesmo redução da pressão arterial. A VERDADE é que a contraindicação da utilização de
sibutramina existe no tratamento de pacientes com obesidade, diabetes e doença coronariana ou derrame, mas também
nos pacientes nos quais a hipertensão não está controlada. É VERDADE também, que pacientes com má resposta inicial à
sibutramina, que não perdem pelo menos 2 kg nas primeiras 4 semanas devem ter o tratamento interrompido ou a dose
aumentada, a critério do médico.
O tratamento
da obesidade com orlistate reduz a absorção da gordura dos alimentos e pode levar a redução de peso, melhora
de diabetes e redução do colesterol. O orlistate pode ser usado em adolescentes. O uso prolongado de
orlistate deve ser acompanhado de reposição de vitaminas.
A liraglutida
é uma medicação injetável que promove uma redução do apetite nos centros cerebrais que regulam a fome, sem outros
efeitos indesejáveis no sistema nervoso. É VERDADE também, que pacientes com má resposta inicial à
liraglutida, que não perdem pelo menos 5% do peso inicial depois de 16 semanas do início do tratamento terão pouco
benefício com sua manutenção.
“Remédios
para emagrecer normalmente são fórmulas com associações de drogas aviadas em farmácias de manipulação” é um
MITO. Pode até ser comum, mas a VERDADE é que não é o normal. A VERDADE é que a prescrição de múltiplas drogas
manipuladas numa cápsula devem ser evitadas e podem ser prejudiciais. Por isso, há quase 20 anos o Conselho Federal
de Medicina proíbe o médico de prescrever fórmulas com associação de remédios inibidores de apetite, calmantes,
laxativos, diuréticos e hormônios.
A
cirurgia bariátrica tem indicação em pacientes com obesidade grave (por exemplo, pacientes com 160 cm de
altura e mais que 103 kg ou 170 cm e mais que 116 kg) ou em pacientes com obesidade não tão grave (os mesmos
exemplos com mais que 90 kg e mais que 102 kg) desde que tenham uma doença grave causada ou agravada pela obesidade.
Em qualquer dos casos, a VERDADE é que um critério de indicação de acordo com o Conselho Federal de Medicina e o
Ministério da Saúde é a “falência do tratamento clínico da obesidade”. Portanto, nenhum paciente que nunca foi
submetido a um tratamento com medicamentos e mudança de estilo de vida deve ser submetido a uma cirurgia bariátrica.
“Depois de operar o estômago, deixarei de ter problemas com o peso” é um MITO. A vigilância com o
peso deve ser constante, e além disso a supervisão das doenças passadas e de deficiências de vitaminas e minerais. A
VERDADE é que não são poucos os pacientes que têm recorrência do peso e de doenças antigas que tinham desaparecido.
Além disso, a negligência em tomar as vitaminas e minerais depois de operar pode levar a complicações graves, como
anemia, perda de massa óssea e fraturas, enfraquecimento de cabelos, unhas e nervos por falta de vitaminas e
minerais. O acompanhamento depois de uma cirurgia bariátrica deve durar a vida toda.
Por Dr. Marcio C. Mancini
- CRM 57605 / SP - RQE 13936
(Especialista em Endocrinologia e Metabologia e membro na Brazil Health)