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Parto Humanizado: Como Identificar Boas Práticas e Evitar Abusos, Segundo Especialistas
A exibição de denúncias envolvendo mortes de recém-nascidos e casos de violência obstétrica durante partos tidos como “naturais” ou “humanizados” reacendeu um alerta importante: a humanização do parto está sendo banalizada e, por vezes, usada como fachada para práticas perigosas.
Para o ginecologista e obstetra Dr. Paulo Noronha, da FEBRASGO, o verdadeiro parto humanizado não é um estilo, mas um direito: “Significa respeitar a mulher, garantir que ela seja ouvida, tenha acesso à informação e participe das decisões sobre seu próprio corpo e o nascimento do filho.”
Segundo ele, a humanização nasceu como reação à medicalização excessiva do parto, marcada por intervenções padronizadas, sem embasamento científico e muitas vezes sem o consentimento da gestante. Práticas como episiotomia de rotina, jejum prolongado, uso abusivo de ocitocina e a manobra de Kristeller ainda são comuns e ferem princípios básicos da assistência segura.
“Não se trata de ser contra intervenções, mas contra a imposição delas sem critério ou explicação. O uso de anestesia, por exemplo, pode ser extremamente positivo quando feito com consentimento e indicação”, explica o especialista.
A enfermeira obstetra Cinthia Calsinski destaca que a humanização se vê no acolhimento real: escuta ativa, tempo de consulta, respeito às dúvidas e às decisões da mulher. “Quando a paciente sai de uma consulta sentindo-se infantilizada ou desconectada, isso já é um sinal de alerta.”
Ela alerta ainda que a violência obstétrica pode acontecer em qualquer ambiente – inclusive em partos domiciliares. A diferença está na postura ética e técnica dos profissionais.
Sinais de alerta para violência obstétrica:
• Procedimentos feitos sem explicação ou sem consentimento
• Frases que desqualificam a mulher, como “deixa que eu sei o que faço”
• Afastamento ou impedimento do acompanhante
• Manobras dolorosas ou invasivas sem justificativa clínica
Caso ocorra violência obstétrica, o acompanhante pode intervir com frases como “respeite o plano de parto” ou “ela precisa consentir com isso”. É direito da mulher registrar a situação com fotos ou vídeos e, após o parto, denunciar à ouvidoria do hospital, conselhos profissionais ou Ministério Público.
Humanização além da estética
Para os especialistas, o discurso nas redes sociais tem contribuído para a distorção do conceito. Muitas vezes, o termo “parto humanizado” é atrelado a cenários com banheira, luz baixa e música ambiente, enquanto faltam escuta, respeito e respaldo científico.
“Humanização não é iluminação suave nem aromaterapia. É prática clínica segura com respeito à autonomia da mulher. É ciência com empatia”, conclui Dr. Noronha.
A orientação dos especialistas é clara: informação é a melhor ferramenta de proteção. Participar de cursos de educação perinatal, montar um plano de parto, conhecer os direitos da gestante e escolher bem a equipe de assistência são atitudes que ajudam a garantir um parto realmente humanizado — onde a mulher seja, de fato, protagonista.
Por Redação Brazil Health