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Vacinas contra Covid-19: Novo Reforço Pode Ter Alvo Mais Estável e Plataforma Baseada na BCG
São Paulo, abril de 2025 – Um estudo liderado pelo Institut Pasteur de São Paulo, em parceria com a USP e o Instituto Butantan, aponta caminhos promissores para o desenvolvimento de vacinas mais duradouras contra a Covid-19, capazes de enfrentar melhor as constantes mutações do vírus. O artigo, publicado na revista Pathogens, faz uma revisão dos principais avanços vacinais e propõe estratégias inovadoras, como o uso da BCG modificada e a inclusão de novos alvos virais, como a proteína Nucleocapsídeo, considerada mais estável que a Spike.
Segundo os pesquisadores, embora as vacinas atuais tenham desempenhado um papel essencial na redução de casos graves, a dependência da proteína Spike – altamente mutável – impõe limites à durabilidade da resposta imune. A variante Ômicron, por exemplo, apresentou mais de 30 mutações na Spike, reduzindo a eficácia dos anticorpos neutralizantes.
“Precisamos de vacinas mais robustas, que não dependam exclusivamente da Spike. O ideal é uma formulação com múltiplos alvos virais, como a proteína N, que apresenta menos variações entre as linhagens do vírus”, explica o professor Sergio Costa Oliveira, coordenador do estudo e líder do grupo de Vacinologia do IPSP.
BCG como vetor contra o coronavírus
Uma das propostas mais inovadoras da pesquisa é o uso da BCG recombinante como plataforma vacinal. Modificada geneticamente para expressar antígenos do SARS-CoV-2, a vacina combinaria o poder de ativação imune da BCG com a indução de anticorpos específicos contra o coronavírus.
Nos testes com camundongos, os resultados foram promissores: os animais vacinados não apresentaram infecção pulmonar e tiveram resposta imune celular ampliada. A BCG, usada há décadas contra a tuberculose, estimula a imunidade inata e pode ajudar a ampliar a eficácia e durabilidade da proteção vacinal.
“A resposta imune celular mais ampla é um diferencial dessa vacina, além da inclusão da proteína N, que torna a imunidade menos vulnerável às mutações”, destaca Oliveira.
Vacinas de mucosa e nova geração de plataformas
O estudo também aponta como promissoras as vacinas de mucosa administradas por via intranasal, por estimularem a imunidade diretamente nas vias respiratórias — porta de entrada do SARS-CoV-2. Essa abordagem pode ser estratégica para reduzir a transmissão e ampliar a proteção local contra variantes.
Além disso, os cientistas ressaltam que a resposta vacinal é especialmente reduzida em idosos e imunossuprimidos, devido ao envelhecimento do sistema imune (imunossenescência). Por isso, novos adjuvantes e tecnologias são essenciais para adaptar a imunização a esses grupos mais vulneráveis.
Perspectivas
Embora as vacinas de mRNA (como Pfizer e Moderna) tenham alcançado até 95% de eficácia inicial, os níveis de anticorpos caem após seis meses, exigindo reforços constantes. O objetivo agora é desenvolver vacinas que ofereçam proteção mais duradoura e adaptável frente à evolução do vírus.
“As vacinas foram fundamentais no controle da pandemia, mas o vírus continua mudando. Precisamos continuar inovando para garantir proteção real e contínua”, reforça Oliveira.
A pesquisa com a BCG recombinante está em fase de ajustes técnicos e deve avançar para novos testes contra variantes mais recentes. Combinando tecnologia, ciência de ponta e estratégias imunológicas mais amplas, o estudo brasileiro pode contribuir significativamente para a próxima geração de vacinas contra a Covid-19.
Por Redação Brazil Health