3 min de leitura
Parkinson além do tremor: Unicamp defende acolhimento e políticas públicas mais inclusivas
Apesar de ser frequentemente associado aos tremores, o Parkinson vai muito além dos sintomas motores. Alterações cognitivas, dores crônicas, fadiga, problemas emocionais e distúrbios como constipação intestinal ou quedas de pressão são sinais não motores da doença que afetam profundamente a qualidade de vida, mas ainda são subestimados no diagnóstico e no tratamento.
Segundo o Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião funcional e pesquisador da Unicamp, é urgente adotar um olhar mais empático e abrangente. “Muitas vezes, o que mais aflige o paciente não é o tremor ou a rigidez, mas sim as limitações que afetam sua independência e bem-estar emocional. Compreender essa dimensão exige tempo e um acompanhamento mais próximo”, afirma.
Sintomas silenciosos e impacto emocional
A doença de Parkinson atinge cerca de 1% da população com mais de 65 anos no mundo, e estima-se que 200 mil brasileiros convivam com a condição. A progressão da doença varia muito e pode ser particularmente desafiadora para pacientes mais jovens, que ainda estão em plena atividade profissional. Além das limitações físicas, o impacto emocional é intenso: cerca de 50% dos pacientes desenvolvem algum grau de depressão, segundo o especialista.
Para o neurocirurgião, a escuta ativa e o acolhimento são essenciais. “A avaliação clínica não deve se limitar aos sintomas visíveis. Muitos pacientes enfrentam dificuldades para relatar o que sentem, seja por vergonha, falta de informação ou por não serem levados a sério”, diz.
Tratamento multidisciplinar é essencial
A abordagem eficaz inclui fisioterapia, fonoaudiologia, psicoterapia e o suporte familiar. “É fundamental que o tratamento vá além do controle motor e promova o bem-estar integral do paciente. O cuidado precisa ser contínuo, individualizado e humano”, ressalta.
Desigualdade de acesso e desafios no SUS
Um dos principais gargalos, segundo Valadares, é o acesso desigual ao tratamento no Brasil. “Nos grandes centros há hospitais de referência, mas nas cidades menores, o acesso a médicos especializados, medicamentos e terapias complementares ainda é muito limitado”, lamenta. O desabastecimento de remédios no SUS também compromete o controle da doença. “Sem continuidade no tratamento, os sintomas evoluem mais rápido”, alerta.
Mais inclusão, menos preconceito
Além das barreiras físicas e estruturais, há o preconceito velado no ambiente de trabalho. Muitos pacientes têm suas atividades profissionais interrompidas ou enfrentam resistência para adaptações simples. Mesmo medidas como a isenção de imposto de renda para aposentados diagnosticados não contemplam quem continua em atividade.
“A inclusão começa pelo reconhecimento da complexidade da doença. Não se trata apenas de tratar os sintomas, mas de garantir qualidade de vida, acesso digno ao tratamento e ambientes mais humanos e acessíveis”, conclui Valadares.
Por Redação Brazil Health