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26 de Abril de 2025

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Amamentação Influencia Microbiota Intestinal e Pode Reduzir Risco de Hipertensão, Estudo USP

Um estudo inédito realizado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) revelou que o período de amamentação exerce papel decisivo na formação da microbiota intestinal e pode ajudar a atenuar quadros futuros de hipertensão arterial. Publicado na revista Pharmacological Research, o trabalho desafia a ideia de que a disbiose intestinal seria uma consequência da hipertensão, ao mostrar que os desequilíbrios na flora ocorrem antes mesmo do aumento da pressão arterial.

Amamentação cruzada atenua hipertensão

Utilizando um modelo experimental com ratos predispostos à hipertensão (SHR), os pesquisadores observaram que, quando esses filhotes eram amamentados por mães normotensas, apresentavam uma redução média de 5% na pressão arterial na vida adulta — o equivalente a 10 mmHg. Embora a predisposição genética à doença permanecesse, essa pequena queda é suficiente para diminuir o risco de lesões em órgãos como coração, rins e retina.

“O mais interessante é que essa melhora ocorre ainda na infância, durante a fase de amamentação, antes de qualquer sinal clínico de hipertensão”, destaca a professora Luciana Rossoni, orientadora da pesquisa e docente do ICB-USP.

Microbiota ‘refinada’ e papel de bactérias-chave

Outro ponto importante do estudo foi a análise da microbiota intestinal durante as primeiras semanas de vida. Mesmo antes de desenvolverem a doença, os animais hipertensos já apresentavam disbiose — ou seja, uma microbiota desequilibrada, com alterações em grupos bacterianos considerados minoritários, mas essenciais para a estabilidade do ecossistema intestinal.

“O ambiente de amamentação influenciou essa composição microbiana. Os SHR amamentados por mães normotensas tinham uma microbiota mais próxima à de animais saudáveis”, explica Patrizia Dardi, autora do estudo.

Metabólitos e sinalizações precoces

A pesquisa também investigou compostos bioativos produzidos pelas bactérias intestinais, como o butirato — um SCFA com ação anti-inflamatória — e o sulfeto de hidrogênio (H₂S). Nos animais predispostos à hipertensão, a produção de butirato estava reduzida já nas primeiras semanas de vida, reforçando a ideia de que alterações funcionais da microbiota precedem a doença.

Apesar disso, o ambiente de amamentação foi capaz de aumentar a absorção desses ácidos graxos, graças à maior expressão de transportadores intestinais. Já o H₂S, que em baixas concentrações pode ter efeitos benéficos, apareceu em excesso nos animais SHR, sendo associado à inflamação e disfunção vascular.

Implicações para a saúde pública

Os achados apontam para novas possibilidades de prevenção da hipertensão por meio da modulação da microbiota intestinal na infância. Também levantam uma questão importante: como a microbiota das mães — especialmente as hipertensas — influencia a saúde dos filhos por meio do leite materno e do contato precoce.

“Estamos diante de uma nova fronteira para o entendimento da hipertensão. Intervenções na microbiota nos primeiros meses de vida podem, no futuro, se tornar estratégias relevantes para evitar o desenvolvimento da doença”, conclui a professora Rossoni.

Por Redação Brazil Health

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