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22 de Abril de 2025

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Pós-Graduação em Medicina: vale a pena investir? Veja prós e contras antes de decidir

O Brasil vive uma transformação silenciosa na medicina. Em pouco mais de uma década, o número de médicos no país praticamente dobrou, passando de 304 mil em 2010 para cerca de 598 mil em 2024, segundo o estudo “Demografia Médica 2024” do Conselho Federal de Medicina (CFM). O crescimento das faculdades de medicina acompanhou esse movimento: de 78 cursos em 1990, saltamos para 423 em 2024. Hoje, temos 2,81 médicos por mil habitantes — um avanço expressivo, mas ainda inferior à média de 3,7 recomendada pela OCDE.

Esse aumento, porém, não veio sem desafios. Formar mais médicos não significa, necessariamente, garantir atendimento de qualidade à população. A graduação é apenas o primeiro passo, e a Residência Médica (RM), tradicionalmente considerada o “padrão ouro” da especialização, já não comporta todos os recém-formados. Atualmente, cerca de 47 mil médicos estão matriculados em programas de residência, sendo 19,5 mil no primeiro ano (R1). No entanto, com cerca de 27 mil novos médicos se formando anualmente, há um descompasso claro. Muitos profissionais ficam sem vagas, sem especialização e sem um caminho bem definido para a carreira.

Diante desse cenário, surge um dilema: insistir na residência ou buscar alternativas para se qualificar? A RM continua sendo um objetivo almejado por muitos médicos, mas não pode mais ser vista como a única via de especialização. O mercado de trabalho exige conhecimento aprofundado, e a Pós-Graduação em Medicina (PG-Med) tem se consolidado como uma alternativa viável e necessária para médicos que desejam continuar seus estudos sem depender exclusivamente da residência.

Os números mostram essa realidade. Todos os anos, cerca de 20% das vagas de RM ficam ociosas, denotando baixo interesse dos médicos recém-formados por determinadas especialidades. Ao mesmo tempo, milhares de médicos buscam uma maneira de ampliar seus conhecimentos, se especializar e entrar rapidamente no mercado. Nesse contexto, a PG-Med se destaca como um modelo flexível, que permite ao profissional conciliar aprendizado e atuação clínica.

Diferente da residência, que exige dedicação exclusiva, carga horária de 60h semanais e oferece uma bolsa média de R$ 4.100, a PG-Med possibilita que o médico continue trabalhando, garantindo estabilidade financeira enquanto investe em sua qualificação. Esse fator é determinante para muitos profissionais que precisam conciliar estudos e sustento próprio.

No entanto, há um ponto inegociável: a qualidade da formação. Nem todas as PG-Med oferecem ensino robusto. Programas que priorizam apenas o ensino teórico, sem prática supervisionada e contato com pacientes reais, podem comprometer a capacitação do profissional. Optar por cursos presenciais, com ênfase em atividades práticas e acompanhamento de casos clínicos reais, é, em muitos casos, essencial para garantir uma formação de excelência.

Além disso, a PG-Med pode ajudar a resolver um dos principais problemas da saúde brasileira: a má distribuição de médicos no país. Enquanto algumas capitais e grandes centros concentram especialistas, muitas regiões enfrentam a falta de profissionais qualificados. Programas bem estruturados podem contribuir para que médicos levem atendimento de qualidade a essas áreas carentes. Afinal, o foco da medicina deve estar no tratamento de qualidade para os pacientes, e de nada adianta formar mais médicos se eles não estiverem preparados para atuar com segurança, competência e comprometimento em diferentes contextos.

Se olharmos para 2035, veremos que o futuro da medicina será definido pelas escolhas de hoje. Fortalecer a formação médica significa não apenas ampliar a oferta de vagas na RM, mas também garantir que programas de pós-graduação sejam reconhecidos, regulamentados e ofereçam um ensino de alto nível. O caminho não deve ser a exclusão de uma alternativa em detrimento da outra, mas a criação de um sistema de formação médica eficiente e com rigoroso controle da qualidade do que é oferecido.

O compromisso deve ser um só: formar médicos capacitados, confiantes e preparados para transformar a saúde no Brasil. Afinal, essa discussão não se resume a números, mas à vida de milhões de brasileiros que dependem de um atendimento médico de qualidade. A RM tem seu lugar definido e garantido, sendo o único caminho possível para algumas especialidades. Mas há, em muitas áreas, espaço também para a PG-Med, que manterá sua evolução, garantindo o aprimoramento contínuo e a excelência na atuação de muitos profissionais.

Dr. Guilherme Succi, médico cirurgião cardiovascular e coordenador do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic

Por Redação Brazil Health

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