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A Fatura da Exaustão: Como a Escala 6x1 Afeta a Saúde Mental
A escala 6x1, comum em diversos setores da economia, tem sido alvo de debates sobre seus impactos na saúde mental dos trabalhadores. Mais do que apenas desgaste físico, essa jornada extensa e a falta de tempo adequado para descanso podem levar a sérias consequências psicológicas.
Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), em 2022, 65,8% dos trabalhadores brasileiros formais atuavam seis dias por semana, sendo que 82% desses profissionais recebiam menos de dois salários mínimos. Essa realidade impõe desafios não apenas na vida profissional, mas também no equilíbrio entre lazer, descanso e convívio familiar.
Para o psicólogo e mestre em Psicologia Clínica Marcos Torati, o trabalho deveria ser uma fonte de satisfação, mas frequentemente se torna uma obrigação imposta pela necessidade de sobrevivência. “A diferença está no significado que o trabalho tem para cada pessoa. Enquanto algumas veem sentido no que fazem, outras apenas seguem uma rotina mecânica, o que gera esgotamento físico e mental”, afirma.
A sobrecarga e a crise da identidade profissional
A relação dos trabalhadores com o emprego está cada vez mais atravessada pelo medo da instabilidade financeira. Segundo Torati, a escala 6x1 impõe um ritmo de vida acelerado, dificultando o descanso adequado e o tempo de qualidade para atividades pessoais. Isso pode explicar por que muitos jovens preferem buscar outras formas de renda, como o trabalho autônomo ou a chamada "uberização" do trabalho, em vez de empregos com alta carga horária e baixa satisfação.
Uma pesquisa do Serasa Experian (2024) revelou que 8 em cada 10 trabalhadores brasileiros consideram ou já tomaram medidas para reduzir o tempo de deslocamento para o trabalho, evidenciando a busca por melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal. No entanto, mesmo com iniciativas de regulamentação da carga horária, muitos ainda acabam dedicando suas horas livres para complementar a renda.
A relação entre trabalho e saúde mental
A palavra "trabalho" tem origem no latim "tripalium", um instrumento de tortura, e, para muitos, essa etimologia reflete a realidade vivida. O psicólogo alerta que, ao longo do tempo, a rotina exaustiva pode resultar em transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão e burnout.
“As pessoas frequentemente associam sofrimento ao direito ao descanso, chegando ao extremo de adoecer para se sentirem autorizadas a parar. Essa mentalidade precisa ser revista, pois leva a um ciclo vicioso de exaustão e esgotamento”, explica Torati.
Repensando a jornada de trabalho
Modelos de trabalho mais equilibrados podem ser uma alternativa viável. O conceito de "8 horas para trabalhar, 8 horas para lazer e 8 horas para dormir", defendido pelo filósofo Robert Owen, continua sendo um referencial importante. Contudo, a realidade mostra que o tempo gasto em deslocamento e atividades domésticas pode desequilibrar essa fórmula.
Para o especialista, a solução passa por um repensar profundo da cultura do trabalho. “Mais do que mudar as leis, é preciso mudar a mentalidade sobre o que significa produzir e ter uma vida equilibrada. O descanso e o lazer não são luxos, são necessidades fundamentais para o bem-estar”, finaliza Torati.
Por Redação Brazil Health