Psicologia
07 de Abril de 2025

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"Adolescência": Psicólogo Explica Riscos Da Radicalização Na Internet

Em um momento em que séries como “Adolescência”, da Netflix, trazem à tona discussões sobre a radicalização online entre jovens, especialistas alertam para os perigos dos movimentos extremistas que encontram terreno fértil na vulnerabilidade emocional dos adolescentes.

A série, considerada por críticos como “a coisa mais próxima da perfeição na TV em décadas”, aborda temas urgentes como a influência da chamada “machosfera” na formação psicológica dos jovens. A trama da minissérie acompanha um adolescente de 13 anos, Jamie Miller (Owen Cooper), que é acusado de matar de forma violenta uma colega de turma da escola.

Marcos Torati, psicólogo, professor e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, explica mais detalhes sobre como funciona esse fenômeno e porque a adolescência é uma fase particularmente vulnerável à influência de discursos polarizados e extremistas.

“Isso ocorre porque os jovens naturalmente têm dificuldades em lidar com ambivalências emocionais. A polarização social pode exacerbar a intolerância interna do adolescente, a adesão ao radicalismo protege o jovem de entrar em contato com certas angústias depressivas que, na saúde, produzem amadurecimento emocional”, comenta ele.

A armadilha psicológica do movimento incel

De acordo com Torati, o movimento incel (abreviação para “celibato involuntário”), pode afetar os jovens “feridos narcisicamente” de diversas formas, criando um ciclo de isolamento, intolerância e ódio difícil de romper.

“Ao culpabilizar o sexo feminino e o feminismo pela sua condição socioemocional, esses movimentos desobrigam os rapazes de se haverem com suas frustrações e dificuldades psicológicas”, explica ele.

Um dos aspectos mais prejudiciais, segundo o psicólogo, é como essa ideologia compromete a capacidade de determinados jovens de desenvolverem relacionamentos saudáveis.

Histeria masculina

“O repúdio às mulheres, que mascara o medo que sentem por desejá-las, não inibe os impulsos sexuais. Isso pode levar a uma exacerbação das práticas masturbatórias, encontrando mais segurança na cyberpornografia, na autossatisfação solitária, e em mulheres idealizadas do que em relacionamentos reais”, comenta.

Hoje, traumas e inseguranças pessoais podem ser camuflados pelo identitarismo e disfarçados como causas sociais, impedindo que o indivíduo busque ajuda psicológica para seus conflitos.

Sinais de alerta e como oferecer ajuda

Os sinais de vulnerabilidade psicossocial dos jovens com comportamentos extremistas são identificáveis tanto dentro quanto fora das redes sociais. Entre eles, o especialista destaca: isolamento social, mas com interações intensas na “machosfera” (comunidades online masculinas), comportamentos misóginos, revolta e culpabilização das mulheres pelo insucesso nos relacionamentos, idealização excessiva da masculinidade e condutas narcisistas.

Quanto à abordagem para ajudar esses jovens, Torati enfatiza a importância do acolhimento sem julgamento. Segundo ele, os incels, assim como outros adolescentes, podem ser compreendidos como indivíduos extremamente sensíveis, que se sentem facilmente humilhados. A intervenção eficaz começa pelo estabelecimento de um vínculo de confiança.

O olhar dos adultos sobre a adolescência

A maneira como os adultos percebem e se relacionam com os adolescentes têm impacto direto no bem-estar psicológico dos jovens. Para o psicólogo, a ausência de competência dos adultos para compreendê-los pode levar os jovens a sentirem-se abandonados em seu sofrimento.

“A fragilidade do ‘eu’ adolescente, que ainda está em formação, se encontra em um estado emocional de dependência das opiniões e expectativas dos adultos para reconhecer o seu valor, o que influi diretamente no processo de construção de sua autoestima e identidade”, alerta Torati.

Produções como a série “Adolescência” da Netflix podem contribuir para discussões saudáveis sobre temas difíceis. “Através do espelhamento da realidade na tela, os espectadores podem se conscientizar sobre as suas próprias situações e comportamentos. O entretenimento pode servir como ferramenta terapêutica”, finaliza.

Por Redação Brazil Health

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