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Solidão em Tempos Digitais: Psicólogo Analisa Alertas de Black Mirror e Como Enfrentá-lo
Na nova temporada de Black Mirror, o episódio “Pessoas Comuns” aborda de forma sensível e provocadora uma epidemia silenciosa que vem ganhando força na sociedade contemporânea: a solidão. Ao retratar um homem que implanta a consciência da esposa em coma dentro de seu próprio cérebro, a série ilustra até onde alguém pode ir para não se sentir sozinho – e escancara o impacto emocional de uma era dominada pela tecnologia e pelo individualismo.
O psicólogo Marcos Torati, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, explica que o enredo do episódio reflete um fenômeno real e crescente. “Na era do espetáculo identitário e individualista, as relações humanas tendem a se esvaziar de sentido. As interações se tornam utilitárias, onde o outro só serve para validar o próprio ego”, afirma.
Mais conectados, mais solitários
Embora estejamos cercados por telas e redes sociais, o contato humano real tem se tornado cada vez mais raro. Um relatório da Universidade de Harvard já apontava, em 2021, que 61% dos jovens adultos entre 18 e 25 anos relatavam sentir-se frequentemente sozinhos.
Torati alerta que essa desconexão pode ter consequências graves:
. comportamentos compensatórios, como hiperconsumo, workaholismo e uso de substâncias
. aumento de ansiedade, depressão e sensação de vazio
. prejuízo na libido e na socialização
. em casos extremos, ideação suicida e surtos psicóticos
Desligar para reconectar
Para o especialista, combater a solidão exige uma mudança de postura diante da vida. “Estamos viciados no conforto digital. As redes oferecem gratificações rápidas, sem esforço, e nos protegem da frustração das relações reais. Mas é justamente na troca imperfeita com o outro que reside o verdadeiro sentido da convivência humana”, destaca.
O psicólogo propõe atitudes simples, porém transformadoras:
. participar de atividades presenciais, como cursos, oficinas e esportes em grupo
. dedicar tempo aos vínculos afetivos já existentes
. se abrir a novas relações, mesmo fora da própria “bolha” de afinidades
. buscar ajuda profissional quando necessário
É preciso sair da bolha
Segundo Torati, a solidão da era digital é alimentada pela “preguiça afetiva” – a dificuldade em lidar com o outro de forma comprometida. “Queremos liberdade total, mas reclamamos da ausência de vínculos. Só que relacionamentos exigem concessões, presença e escuta. A questão é: estamos prontos para abrir mão de um pouco do nosso conforto individual em prol de conexões verdadeiras?”, provoca.
O episódio de Black Mirror termina com a pergunta que muitos evitam: vale a pena manter uma presença artificial só para não encarar o vazio? Na vida real, a resposta talvez esteja fora das telas.
Por Redação Brazil Health